Friday, March 15, 2013

Vou-te contar o que penso sobre comida ....


Sou magra, se olhares para mim do umbigo para cima. Em pequena era raquitica. Não gostava de comer. A colher de pau (masoquistamente (isto existe?!) decorada por mim) fazia parte da decoração da mesa, juntamente com o prato, o garfo, a faca, e o guardanapo. A refeição era, só por si, sinónimo de choro, gritaria e horas intermináveis à mesa.

Não tenho grandes memórias da infância, mas disto não esqueço. Os restos do almoço (remexidos no prato durante as 2h horas que os meus pais podiam passar comigo à mesa)  eram guardados num tupperware verde, ou larajna, e levados para o lanche. Caio no erro de assumir que, no início dos anos 90, micro-ondas era coisa de rico, e o infantário não tinha. Comia assim, restos de arroz de polvo, ou de massa com frango, enquanto os outros meninos comiam pão com manteiga (ou para os que não gostavam de manteiga, pão com salsa) e bebiam leite de uma caneca de plástico.
Acho que os meus pais pensavam que isso me incomodava muito. Na realidade, o sacrifício de comer aqueles restos, bem temperadinhos por sinal, era o mesmo que comer uma carcacinha com salsa e beber leite. Era-me igual ao litro.
Este drama prolongou-se talvez mais do que uma década. A vida deu uns trambolhões e os meus pais deixaram de ter capacidade de se preocuparem com a minha preguiça para comer (como mais tarde admiti).
Aprendi, depois, quase como por empatia pelo meu pai, a gostar da cozinha. Os cheiros, os temperos, as misturas. Cozinhei pela primeira vez arroz de marisco e tomei-lhe o gosto. Fazia chiffon de chocolate cobiçado por todos...
O meu amor pela cozinha foi aos poucos transformando-se pelo meu amor pela comida.
Anos mais tarde, quando a nossa vida acalmou, o amor pela cozinha e pela comida, re-aproximou-me do meu pai, em pleno Porto Covo, à mesa com torradinhas e ameijoas à bulhão pato. Os têmperos, e sabores, que calmamente ele me explicou, enquanto bebiamos, fazendo-me sentir crescida, 2 Sagres Boémias.
Hoje, sento-me à mesa com prazer. Hoje, cozinho como se a minha felicidade dependesse desses momentos em frente ao fogão. Hoje, como e sinto em cada textura o amor pelas duas pessoas mais importantes da minha vida. Porque cozinhar e partilhar é, para mim, outra forma de amar.

4 comments:

  1. Em pequena também era muito má para comer. A minha mãe nunca me obrigava mas o meu pai sempre me obrigou a comer de tudo. E ainda bem porque eu só gostava de ovo estrelado e iogurtes. Hoje como de tudo. Não gosto de perder muito tempo na cozinha mas cozinho praticamente todos os dias.

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  2. Cá em casa ainda há desses tupperwares.... Duram e duram :)

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  3. xi.. revi-me em ti kd era pekena.. antes da primeira colheirada já estava "cheia"

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